Por que os
Estados Unidos são o país mais bem-sucedido do mundo? Porque são um país que
resolveu o problema da miséria e da estagnação econômica, ao contrário do
Brasil?
O segredo
americano, e que você jamais encontrará em nenhum livro de economia, é que os
Estados Unidos são um país bem administrado, um país administrado por
profissionais. Dezenove por cento dos graduados de universidades americanas são
formados em administração. Administração é a profissão mais freqüente, e
portanto a que dá o tom ao resto da nação. Infelizmente, o Brasil nunca foi bem
administrado. Sempre fomos administrados por profissionais de outras áreas,
desde nossas empresas até o governo. Até recentemente, tínhamos somente quatro
cursos de pós-graduação em administração, um absurdo! De 1832 a 1964 a
profissão mais freqüente no Brasil era a de advogado, e foi essa a profissão
que exerceu a maior influência no país, tanto que nos deu a maioria de nossos
presidentes até 1964. A revolução de 1964 acabou com a era do advogado e a
legalidade, e tivemos a era do economista, que perdura até hoje. Nos próximos
dez anos isso lentamente mudará. O Brasil já tem 2.300 cursos de administração,
contra 350 em 1994. Estamos logo depois dos Estados Unidos e da Índia. Administração
já é hoje a profissão mais freqüente deste país, com 18% dos formandos. Antes,
nossos gênios escolhiam medicina, direito e engenharia. Agora escolhem
medicina, administração e direito, nessa ordem. Há dez anos tínhamos apenas
200.000 administradores, e só 5% das empresas contavam com um profissional para
tocá-las. O resto era dirigido por "empresários" que aprendiam
administração no tapa. Por isso, até hoje 50% das empresas brasileiras quebram
nos dois primeiros anos e metade de nosso capital inicial vira pó. O que o
aumento da participação dos administradores na gestão das empresas significará
para o Brasil? Uma nova era muito promissora. Finalmente seremos administrados
por profissionais, e não por amadores. Daqui para a frente, 75% das empresas
não quebrarão nos primeiros quatro anos de vida, e nossos investimentos gerarão
empregos, e não falências. Em 2010, teremos 2 milhões de administradores
formados, e se cada um empregar vinte pessoas haverá 40 milhões de empregos
novos. Será o fim da exclusão social. Administradores nunca foram ouvidos por
políticos e deputados nem concorriam a cargos públicos. Em 2010, é muito
provável que teremos nosso primeiro presidente da República formado em
administração. Por incrível que pareça, nunca tivemos um executivo no
Executivo. Muitos de nossos ministros e governantes aprendiam administração no
próprio cargo, errando a um custo social imenso para a nação. Foi-se o tempo em
que o mundo era simples e não havia necessidade de ter um curso de
administração para ser um bom administrador. Em 2006, o candidato da oposição
que demonstrar boa capacidade gerencial será um forte candidato à sucessão de
Lula. João Paulo Cunha, do PT, já o alertou de que, "se houver um bom
administrador, ele conquistará o eleitorado da periferia". Não quero
exagerar a importância dos administradores, mas somente lembrar que eles são o
elo que faltava. Ordem não gera progresso, estabilidade econômica não gera
crescimento de forma espontânea, sempre há a necessidade de um catalisador. Não
será uma transição fácil, pois as classes dominantes não aceitam dividir o
poder que têm. Há muita gente interessada em manter essa bagunça e
desorganização, como vivem denunciando Luiz Nassif, Arnaldo Jabor e José Simão.
Gente que é contra supervisão, eficiência e organização. Administradores têm
pouco espaço na imprensa para defender suas idéias e soluções. Em pleno século
XXI, sou um dos raros administradores com uma coluna na grande imprensa
brasileira, e mesmo assim mensal. Peter Drucker há quarenta anos tem uma coluna
semanal em dezenas de jornais americanos, ele e mais trinta gurus da
administração. Administradores têm outra forma de encarar o mundo. Eles lutam
para criar a riqueza que ainda não temos. Economistas e intelectuais lutam para
distribuir a pouca riqueza que conseguimos criar, o que só tem gerado mais
impostos e mais pobreza. Se esses 2 milhões de jovens administradores que vêm
por aí ocuparem o espaço político que merecem, seremos finalmente um país bem
administrado, com 500 anos de atraso. Desejo a todos coragem e boa sorte.
Stephen Kanitz é administrador
por Harvard